Adalberto da Costa Júnior, líder da UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, manifestou preocupação com acusações relativas à petrolífera estatal (leia-se: do MPLA) Sonangol e o envolvimento de “figura relevante” da Presidência da República em actos de alegado favorecimento em negócios.
Adalberto da Costa Júnior reagia numa mensagem publicada nas redes sociais à “quantidade de informações preocupantes” que os angolanos têm estado a receber nas últimas semanas, que nomeadamente “atentam contra a gestão e a transparência” da empresa pública Sonangol.
“Tudo isto ocorre sem que haja iniciativas de quem de direito, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República”, disse Adalberto da Costa Júnior, considerando ainda “mais grave” esta semana “a publicação em que é tornado público a informação, não pela primeira vez, que envolve figura relevante da Presidência da República”.
Em causa estão “acusações bastante graves de violação da transparência e da Lei da Probidade Pública, inclusive com a indicação de que estas violações foram possíveis, porque também assinadas pelo Presidente da República”, acrescentou.
Esta semana, a televisão portuguesa TVI divulgou notícias, segundo as quais Edeltrudes Costa, chefe de gabinete do Presidente de Angola, João Lourenço, estaria a ser favorecido em negócios com o Estado, com o aval do chefe de Estado angolano.
O nome de Edeltrudes Costa foi citado como tendo recebido milhões de dólares, de origem desconhecida, tendo a sua empresa EMFC, as iniciais do seu nome, sido beneficiada em contratos de consultoria e prestação de serviços.
Por outro lado, o antigo gestor da empresária Isabel dos Santos na Sonangol, Mário Leite da Silva, queixou-se junto de reguladores internacionais sobre um “contrato falso” que terá lesado a Sonangol em 193 milhões de euros em 2005, altura em que o antigo vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, era o presidente do Conselho de Administração da petrolífera do MPLA.
O presidente da UNITA manifestou também preocupação com o silêncio sobre este assunto nas instituições, sobretudo nos órgãos de comunicação públicos.
“Estamos muito preocupados. E decorridos alguns dias é surpreendente o silêncio das instituições, é surpreendente que para outros casos haja rapidez, mas para este nem sequer a imprensa dá uma vírgula de notícia, um segundo de cobertura”, salientou.
Segundo Adalberto da Costa Júnior, em nenhum dos órgãos públicos se noticiou “o que quer fosse sobre esta matéria”, o que demonstra que Angola está “a viver um monopólio absoluto dos órgãos de comunicação e que o Estado está a violar inclusive a Lei de Imprensa”.
“Isto não se coaduna com uma sociedade democrática que nós todos pretendemos abraçar”, referiu o dirigente da UNITA, considerando que “é urgente que quem de direito não transfira cada vez mais a ideia que o combate à corrupção é apenas uma causa para alguns, não é universal e que é dirigido”.
“Esperamos o mais rápido possível, que os órgãos cumpram com a sua missão e que de facto não haja protegidos e que estejam acima da lei”, exortou.
A situação actual do país, prosseguiu, “é a razão que faz partilhar estas grandes preocupações de uma Angola que vê cada vez mais o que é de todos mal gerido”.
Para Adalberto da Costa Júnior trata-se de “mais uma preocupação acrescida no âmbito daquilo que é a falta de cumprimento pelas leis e a impunidade” que disse ser “cada vez mais uma instituição” no país.
Em Dezembro do ano passado, Adalberto da Costa Júnior avisou que o seu partido não ia engolir sapos e que estaria na linha da frente do combate por uma Angola para os cidadãos nem que, para isso, no limite, tenha de sair às ruas. Os crentes, como nós, ficaram sentados mas atentos. Continuam atentos e… sentados.
Na edição do dia 6 de Dezembro de 2019 do programa Angola Fala Só da VoA, Adalberto da Costa Júnior acusou o MPLA de manter um regime partidarizado, que nunca condenou a fraude eleitoral, que mantinha controlada a comunicação social pública e que dividia a riqueza do país entre seus dirigentes.
“Não vamos engolir sapos, não senhor”, reiterou o líder da oposição ante uma pergunta directa de um internauta, nomeadamente sobre a fraude eleitoral que, para Adalberto da Costa Júnior, “tem sido prática do regime”, como sempre “foi denunciado pela UNITA”.
As eleições autárquicas e o programa da UNITA caso ganhe as legislativas em 2022 foram temas recorrentes do programa, com Adalberto da Costa Júnior a garantir que, apesar de como disse um internauta “o MPLA não querer realizar as autarquias”, “nós tudo faremos para que elas sejam realizadas”.
Para o líder da UNITA, o partido no poder “acostumou-se a governar na vertical, em que decide no topo e todos obedecem” e, por isso, não quer as eleições autárquicas”.
“As autarquias colocam o poder na horizontal e o MPLA tem medo da horizontalidade do poder” porque “os cidadãos são ouvidos e participam na gestão” da sua região, do seu município.
Por isso, “as eleições terão de realizar-se em todo o país” e não de forma gradual como quer o MPLA e “a UNITA não abre mão disso”, reiterou o líder do principal partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista.
Nas respostas a questões concretas colocadas por ouvintes e internautas, Adalberto da Costa Júnior considerou que “quem incutiu o extremismo em Cabinda foi o Governo”, com a sua política de desrespeito pela população e “privilegiando a repressão ao diálogo”.
“Há pouco tempo vi uma manifestação extremada de mulheres em Cabinda”, precisamente por causa das políticas do MPLA, referiu. O presidente da UNITA disse defender uma “ampla autonomia para Cabinda, como ponto de partida” para um diálogo com todos.
Nas grandes políticas, Adalberto da Costa Júnior apontou como prioridades a educação, saúde, agricultura, economia, “sempre em auscultação dos angolanos que têm noção da situação” do país e, “no limite sairemos às ruas”.
E por falar em engolir… sapos
Em 2016, o então líder da UNITA, Isaías Samakuva, afirmou que estava a “engolir muitos sapos” para preservar a paz no país, face às constantes provocações que disse visarem o partido. E o Folha 8 perguntou na altura: Finalmente? Ou apenas fogo-de-vista?
O então líder da UNITA foi um dos convidados da conferência nacional sobre Paz, Democracia e Direitos Humanos em Angola, organizada pela Associação Mãos Livres, o Fórum das Mulheres Jornalistas e a Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD).
No painel sobre a visão dos partidos políticos na manutenção da paz e consolidação da democracia e dos direitos humanos em Angola, Isaías Samakuva defendeu que a promoção da paz tem muito a ver com os discursos.
“E nós notamos com insistência que há um discurso que dá a impressão que as pessoas têm saudades do conflito, da guerra, querem voltar à guerra”, disse Isaías Samakuva, sem citar nomes.
Segundo o político, sem querer fugir às responsabilidades ou culpas, considerou que diante de “um balanço justo verão que a UNITA até tem estado a engolir muitos sapos”.
“Temos sofrido provocações, humilhações e é a responsabilidade da manutenção da paz que nos faz calar e nos faz engolir esses sapos”, afirmou, salientando que os discursos da principal força política da oposição eram de apelo ao diálogo, à justiça e à manutenção da paz. O político disse ainda que era várias vezes criticado por não agir em muitos casos, mas preferia ficar calado e engolir os ditos sapos.
“Eu estou a ter receio quanto a isso, é que a situação tende a evoluir para um ponto em que nós que estamos a tentar fazer uma contenção enorme, podemos ser ultrapassados por aqueles que acham que nós somos moles e que não estamos a fazer nada e um dia aparece um aventureiro aí e depois tem seguidores e a situação fica muito complicada”, alertou.
O então presidente da UNITA considerou que a sociedade civil angolana devia conquistar e ocupar o seu próprio espaço, para ser digna de se afirmar como parceiro institucional do Estado, na garantia dos direitos humanos e em especial dos direitos económicos e sociais dos angolanos.
Samakuva defendeu também que a sociedade civil deve mesmo inventar novos estudos, projectos e campos de intervenção social para a afirmação da cidadania económica, social e cultural angolana.
Recordemos – porque é preciso não ter medo da memória – quais eram (e, embora maquilhadas, continuam a ser) as teses do regime, no caso pela pata de Artur Queiroz, um dos mercenários de eleição do Jornal de Angola, numa espécie de artigo publicado em 2015 sob o título: “O apito de guerra de Isaías Samakuva”.
Segundo o mercenário-sipaio para todos os serviços do MPLA, “Samakuva proporcionou aos “quadros” da UNITA uma formação para se actualizarem no “Guia Prático” e nunca esquecerem que “é preciso bater onde dói mais ao Povo Angolano”.
“Aos “quadros” da UNITA foi prometido que iam marchar triunfalmente entre Muangai e Luanda. Depois a rota mudou para a Jamba. Mais tarde, era do Triângulo do Tumpo até à capital, levados ao colo pelos racistas de Pretória”, reproduziu o rapazola com, é claro, todo o rigor na transcrição das “ordens superiores” do MPLA.
“Na guerra que se seguiu às primeiras eleições multipartidárias, Savimbi prometeu que a rota vitoriosa ia do Bailundo a Luanda. Uns meses depois corrigiu a bússola e a via triunfal ia do Andulo à capital “dominada pelos crioulos””, conta o energúmeno, assumindo a paternidade de um texto encomendado e ditado.
Continua: “Sempre que os bandos armados da UNITA tomavam uma capital provincial, a UNITA dizia que a rota triunfal ia dessas cidades a Luanda. Estava Samakuva a tratar dos negócios alimentados pelo roubo dos diamantes e todas as traficâncias da Jamba, quando a rota triunfal, traçada pelo chefe entre o Lucusse e Luanda, ficou deserta. O chefe ficou com o semieixo partido, Sakala estava moribundo, os outros todos também não se sentiam nada bem e ali acabou a aventura do criminoso de guerra Jonas Savimbi”.
Estes são os sapos que a UNITA tem engolido e que, tanto quanto parece, ainda não lhe causaram a indigestão necessária para os vomitar e então assumir o que dizia, por exemplo, o primeiro presidente do MPLA e de Angola, Agostinho Neto: O importante é resolver o problema do Povo. E são 20 milhões de pobres.
Continuemos com as teses do regime, na circunstância reproduzidas pelo mercenário Queiroz: “Entre eles, é justo destacar, pela coerência na ameaça e no ódio à democracia, Samakuva. Ainda há poucos meses, foi ao Huambo, andou pelas montanhas entre a Caála e o Longonjo, e quando falou aos seguidores, anunciou que a rota vitoriosa estava para breve, começava no Huambo e acabava em Luanda. Na altura ninguém deu importância à sua bravata. Mas hoje temos dados que permitem concluir que o líder da UNITA estava a ameaçar seriamente a paz, a estabilidade e, por isso mesmo, o regime democrático”.
Ou seja, a UNITA é “presa” por ter cão e também por não ter cão. Tem a fama mas não tem o proveito. Não estará, de facto, na altura (e já foi muito o tempo perdido) de ter algum proveito, de honrar o sofrimento de um Povo que o único “crime” que cometeu foi ser angolano, embora de terceira categoria?
Folha 8 com Lusa